AVANT-GARDE FRANCÊS

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Conheça as fases do movimento independente na França cinematográfica

Após a Primeira Guerra Mundial, a instabilidade econômica, política e social fragmentou os pontos de vista tradicionais, possibilitando a formação de um terreno fértil para a indústria cinematográfica. Assim, o crítico e escritor Louis Delluc evidenciava na França o descontentamento com filmes comerciais, tudo que se tinha produzido até então. Paralelamente, artistas de vanguarda começavam a se interessar pela linguagem do cinema e difundir, entre 1921 e 1931, um movimento independente, diferente de tudo que se tinha visto, o Avant-Garde.

Pode- se dividir o Avant-Garde francês em três fases. As duas primeiras pouco contribuíram para a formação do movimento. No entanto, a terceira fase, conhecida como a “Escola de Paris”, por sua autenticidade serve, até hoje, como paradigma para muitos cineastas. Na primeira fase, pretendia-se fazer um cinema intelectualizado e autônomo, inspirado na pintura impressionista, a maior parte das produções era caracterizada por filmes narrativos, de origem literária. Fievré, La femme de nulle part e L’inondation, todos de 1922, estão entre os que tiveram mais repercussão.

Os diretores da segunda fase procuraram fazer uso de técnicas, tais como superposição, foco suave e diferentes ângulos com a câmera. Os filmes que são considerados mais importantes nessa fase são os do diretor Jean Epstein, A película de maior sucesso foi La Chute de La Maison Usher, a produção retratava um conto homônimo de Edgar Allan Poe.

Independente da divisão de fases, dois diretores merecem destaque: Abel Gance e Dimitri Kirsanov. O grande Abel realizou, muito antes do início oficial do Avante-Garde, um filme experimental de ficção científica, a produção era repleta de distorções fotográficas, como em La Folie du Docteur Tube, de 1916. Mas o épico Napoleon, em 1925, que ele provou sua magnificência, empregando três telas separadas, por meio de um processo inédito, denominado Polyvision.

A terceira fase é dividida entre cineastas que se alternaram entre produções comerciais e outros que realizaram filmes estritamente não-comerciais. Os últimos participavam do núcleo de intelectuais de artistas dos anos vinte, simpáticos à causa dos bolcheviques russos e violentamente críticos à sociedade burguesa do período.

Eram conhecidos pelo cunho antiburgues. Essa tendência do cinema tem como principais representantes os dadaístas, grupo mais radical e anárquico entre todos os vanguardistas deste período. No movimento Dada, a referência ao cinema tem o significado de negação e ironia dos valores estéticos tradicionais, tendo como preocupação o ritmo e o movimento. A importância da luz, e seu significado pelos vanguardistas, possibilitou a realização de um trabalho original e extremamente importante para a História do Cinema. O filme mais famoso do Avant- Garde foi Um Chien Andalou, estréia do diretor Luis Buñuel , em parceria com o pintor surrealista Salvador Dalí. Totalmente Freudiano e poético este era um filme feito com o automatismo necessário para a liberação do eu. Como em um pesadelo, imagens desconexas e perturbadoras parecem ter sido retiradas diretamente de nosso inconsciente. De Un Chien Andalou foram eliminadas quaisquer frases que pudessem ser explicadas racionalmente. Não há no filme lugar para o belo sonho, para a piada ou o esteticismo.

Trata-se de penetrar a vida latente, de berrar a angústia e o amor, de atirar na cara do mundo o humor negro. A primeira imagem do filme mostra uma navalha cortando um olho em primeiríssimo plano, anunciando que aquilo que irá ser visto é diferente de qualquer outra coisa já mostrada, provocando um dos maiores sustos da história do cinema. E foi sempre essa a intenção do Avante- Garde, chocar as convenções sociais, a fim de subverter a lógica natural das coisas.

Rafaela Torres

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